Cama de hospital

Tratamento inadequado de cadáveres de doentes falecidos com COVID-19 no Centro Hospitalar de Lisboa Central

Graves irregularidades na manipulação de cadáveres de doentes COVID-19 falecidos no Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central (CHULC) atentam contra a dignidade dos doentes com infeção por SARS-CoV-2 e seus familiares. Além das deficientes condições de trabalho já amplamente denunciadas, também esta situação mostra a falta de competência do Conselho de Administração (CA) do CHULC em assegurar resposta à pandemia em todas as suas vertentes.

 

O agravamento da situação pandémica que se verifica atualmente tem resultado num aumento da pressão sobre os serviços de saúde, como aquele que se verifica na área de Lisboa e Vale do Tejo.

Registam-se, neste momento, não só doentes internados como resultado de contágio adquirido durante os dias de festas natalícias, como também a presença de vários surtos hospitalares de infeção por SARS-CoV-2 em hospitais. Os serviços de saúde estão sobrecarregados e à escassez de recursos humanos de médicos e outros profissionais de saúde junta-se a desorganização e o insólito.

No Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central (CHULC), após o falecimento de doentes com COVID-19, tem sido frequente o atraso na recolha do corpo, muito além do tolerável nesta situação. Não raramente, os cadáveres permanecem largas horas na enfermaria onde faleceram, muitas vezes ao lado de doentes internados.

O Sindicato dos Médicos da Zona Sul (SMZS) tomou conhecimento desta situação, ao que tudo indica não recente, e aparentemente não só com o conhecimento do CA do CHULC, como também agravada por este, ao admitir a suspensão da recolha de cadáveres durante o período noturno.

Esta situação constitui uma violação inaceitável das boas práticas em caso de falecimento. Dela resulta uma compreensível perturbação significativa para os doentes que permanecem internados com um cadáver no quarto e uma gravíssima ausência total de dignidade na manipulação dos corpos dos doentes falecidos, mostrando uma atitude desumana para com doentes e os seus familiares.

Cumulativamente, a impossibilidade de libertar camas para receber doentes a necessitarem de internamento faz com que estes permaneçam tempo excessivo no Serviço de Urgência, com prejuízo para si e agravando as condições de trabalho e prestação de cuidados nesse local.

O SMZS tem vindo a denunciar um conjunto de más práticas por parte do CA do CHULC, que tem mantido a assistência COVID-19 e não-COVID-19 dependente do recurso a trabalho extraordinário dos médicos, sem garantir o respeito pelo descanso compensatório e a contratação dos recursos humanos adequados à situação.

A impreparação deste CA, ao não planificar o centro hospitalar para a segunda vaga da pandemia, levando ao tratamento desumano dos seus utentes, além do desprezo pelas condições de trabalho de médicos e profissionais de saúde, merece a maior atenção – e uma pronta resposta – por parte do Ministério da Saúde, que tem ignorado a situação.

Lisboa, 3 de janeiro de 2021
A Direção do SMZS

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