Hospital

CHULC sem médicos suficientes para prestar assistência a doentes COVID e não-COVID

O recente aumento no número de doentes internados com COVID está a ser feito à custa de camas destinadas a doentes não COVID e sem um adequado reforço do número de médicos, colocando em risco a prestação de cuidados a doentes COVID e não COVID.

 

O Governo tem afirmado recorrentemente que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) tem «capacidade de resposta» e que o número de camas «afetas a COVID pode ser expandido». Esta afirmação não só não corresponde à verdade como é uma absoluta distorção do estado atual de recursos do SNS.

Neste momento, o número de médicos a prestar cuidados a doentes COVID é inferior ao que se registou no período março-julho. Se, no início da pandemia, a atividade assistencial «normal» foi suspensa, e foram mobilizados médicos para os serviços COVID e serviços de urgência, tal não é agora possível, uma vez que a maior parte dos profissionais retornou ao seu serviço de origem e trabalho habituais, de modo a recuperar a atividade em atraso e prestar cuidados a doentes não-COVID. Atualmente, as especialidades que prestam cuidados a doentes COVID, fazem-no isoladas, e sobrecarregadas em simultâneo com a sua atividade assistencial «normal», como internamento de patologias não COVID, consulta e urgência, sem terem tido as suas equipas reforçadas.

Adicionalmente, os contratos temporários para médicos durante 4 meses, abertos excecionalmente em contexto da pandemia, terminaram. Mesmo com a possibilidade de renovação desta excecionalidade, os médicos que foram integrados no SNS durante esse período, na ausência de condições motivadoras para se manterem em funções, optaram por emigrar ou sair para o sector privado.

Apesar da mais que evidente previsibilidade da situação atual e de inúmeras tentativas de contributos por parte dos profissionais envolvidos no combate à pandemia, o Conselho de Administração (CA) do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central (CHULC) e o Governo não foram capaz de antecipar e preparar adequadamente o cenário que atualmente se vive e que coloca em risco a segurança dos doentes e profissionais.

A tímida mobilização de um reduzido número médicos de outras especialidades, é absolutamente insignificante, pois estes são manifestamente insuficientes não só para o número de doentes internados neste momento, como também face às previsões do que se poderá vir a verificar no outono-inverno.

O aumento de camas para dar resposta à pandemia assenta única e exclusivamente na atribuição à COVID a camas habitualmente destinadas a doentes não COVID. Este tipo de gestão, avulsa e sem qualquer planeamento, gera grande apreensão por parte dos médicos, que todos os dias veem mudanças na organização dos serviços e um crescimento no número de camas afetas a COVID, mas sem o aumento correspondente no número de profissionais.

Os médicos estão exaustos e, nesta altura, é humanamente impossível manter a assistência a doentes COVID e a atividade assistencial «normal».

O Sindicato dos Médicos da Zonal Sul (SMZS) exige que seja efetuado e publicitado o planeamento da resposta à pandemia, e que sejam rapidamente tomadas medidas de modo a assegurar médicos suficientes para prestar cuidados aos doentes.

É urgente pôr um fim à propaganda veiculada acerca da capacidade de resposta no combate à pandemia. Engana os cidadãos, ofende os profissionais de saúde e coloca em risco os doentes COVID e não COVID.

O SMZS aconselha a todos os médicos que vejam a assistência aos doentes prejudicada por falta de condições para a prática médica de acordo com a legis artis, que coloquem as minutas de «escusa de responsabilidade civil», como forma de expressão da sua discordância perante a atual situação.

© Sindicato dos Médicos da Zona Sul