O grupo privado que gere o Hospital de Cascais/PPP aprovou um “ Regulamento Interno de utilização e conservação do fardamento e cacifo” que é um exemplo escandaloso de prepotência e de militarização da vida hospitalar.
Esse grupo privado aprovou, com a data de 16/10/2017, o referido regulamento que agora chegou ao nosso conhecimento.
A par de medidas do senso comum a nível de higiene e de aspetos vulgares do fardamento, surgem medidas chocantes que revelam conceções de puro totalitarismo a lembrar países onde imperam os fundamentalistas religiosos.
A título de exemplos, importa referir:
- a maquilhagem deve ser discreta, o baton e sombras em cores nude, base, lápis e rímel adequados à fisionomia de cada pessoa.
- usar “rabo de cavalo” se o comprimento do cabelo está abaixo dos ombros.
- o desodorizante não deve ter cheiro.
- o perfume deve ser leve , fresco e agradável para não incomodar os utentes.
- não podem ser usados chinelos, sandálias e botas.
- não podem ser usados piercings, joias, tatuagens de qualquer tipo em locais visíveis do corpo.
- não devem ser visíveis peças de roupa que não pertençam ao fardamento.
- os homens colocados nas receções devem, entre outras coisas, usar meias lisas e discretas, de preferência azuis escuras.
- as mulheres colocadas na receção devem usar a as saias à altura do joelho, collants em tom natural ou azul escuro, camisa abotoada ao nível do peito e só poderão usar joias simples e discretas em quantidade reduzida, e os brincos terão de ser curtos e junto à orelha.
Também não deixa de ser surpreendente que na entrega da farda, o hospital impute os custos de «arranjos necessários para adaptação à estrutura de cada pessoa» ao trabalhador. A este estranho facto, acresce toda a burocracia no pedido de uma farda antes do seu «período de vida útil» (24 meses) e a obrigatoriedade da limpeza ser feita pelos trabalhadores e não pelos serviços do hospital.
O incumprimento do regulamento, que obriga os trabalhadores a um procedimento burocrático, imputando-lhes toda a responsabilidade da utilização da bata ou de traje de trabalho, favorece uma política de descriminação de género e de fisionomia, implicando um procedimento disciplinar.
O conjunto de medidas referidas revela uma atitude política e gestionária de militarização do local de trabalho.
Quem vai decidir se o perfume é leve, fresco e agradável? E se as joias são simples e discretas?
Quem vai medir a altura das saias?
O Sindicato dos Médicos da Zona Sul entende que este tipo de regulamento é intolerável num Estado democrático e constitui um atentado à Constituição da República.
Estão em causa a liberdade e a individualidade dos trabalhadores daquela unidade hospitalar.
Este é mais um triste exemplo da impunidade que gozam as PPP.
Exigimos aos poderes legalmente estabelecidos a imediata anulação deste tipo de chantagem e assédio nos locais de trabalho.
Iremos acionar todas as diligências legais para impedir que aquele Hospital se transforme em caserna militar.